Prof. Dr. Mário Augusto da Silva

BIOGRAFIA

 

João Paulo da Silva Gil Nobre ,   Coimbra -1997

Resumo Biográfico         Fotografias       

O Cientista Mário Augusto da Silva...

Originário de uma família republicana, nasceu em Coimbra, na Sé Velha, em 1901. Licenciou-se em Física, com distinção - 19 valores, na Universidade de Coimbra. Colega do Professor António de Oliveira Salazar na mesma Universidade, cedo sentiu a intolerância daqueles que, anos mais tarde, após a revolução de 1926, foram os mentores do Estado Novo. No início dos anos vinte publicou, num jornal de Coimbra, um ensaio sobre a origem da vida. As suas ideias baseavam-se em princípios científicos e não dogmáticos. Primeiro surgiram as respostas, depois a perseguição. Para se ter uma ideia da polémica levantada, refira-se que num outro jornal e durante cerca de três meses, duas vezes por semana, foram publicados artigos de resposta com direito a primeira página.

Eleito por Salazar para encabeçar a lista dos docentes e investigadores afastados das universidades portuguesas, em 1947, foi discípulo e assistente de Madame Curie (Instituto do Rádio de Paris - 1925-1930). Foi admitido no Instituto do Rádio de Paris na mesma altura que Frédéric Joliot. Madame Curie tinha então dois assistentes: Marcel Laporte e Irène Curie, sua filha mais velha. Mário Silva ficou a trabalhar com Marcel Laporte enquanto Frédéric Joliot trabalhou com Irène Curie, com quem viria a casar. No Laboratório Curie viveu alguns dos melhores momentos da sua vida, como se deduz das suas palavras: "... Na falta de um lugar no Laboratório, foi na sua Sala de aula que Madame Curie me instalou para a execução dos meus primeiros trabalhos. Assim se explica, em grande parte, a atenção com que os seguiu desde o início, e todo o interesse que por eles tomou. Assim se explica também que eu tivesse ficado em estreita colaboração com a organização do seu curso teórico e que eu tivesse tido a honra de a auxiliar nas demonstrações experimentais das suas lições magistrais. Nunca mais me foi possível esquecer a emoção que senti quando, pela primeira vez, entrei a seu lado na Sala de aula onde, nesse dia, ela ia falar sobre a teoria das transformações radioactivas a um numeroso auditório que a recebeu de pé e, segundo o costume, com uma prolongada salva de palmas. A experiência que eu tinha previamente montado e verificado, era das mais curiosas do curso: demonstração a todo o auditório do ritmo das transformações radioactivas, tornando por assim dizer, audíveis as explosões dos átomos de rádio... Respirei aliviado e quase tive a ilusão, nesse minuto para mim memorável, de que aquelas palmas também se dirigiam ao ignorado português que ali estava, sentindo que acabara de viver um dos momentos mais emocionantes da sua vida de professor" [1].

Foi colega e amigo de grandes cientistas, que na mesma altura preparavam também as suas teses de doutoramento, como Frédéric Joliot, Irène Curie, S. Rosenblum, A. Proca, Frilley, Consigny, Jedrzejowski, etc. Conviveu com outras grandes figuras da Ciência desse tempo, como Paul Langevin, Jean Perrin, Debierne e Holweck. "... Conheci Niels Bohr, em Paris, no Instituto do Rádio, onde lhe fui apresentado por Madame Curie, por ocasião das cerimónias académicas, comemorativas do primeiro centenário da morte do grande físico francês Fresnel, em 1927. Todos os grandes nomes da Física moderna honraram, com a sua presença, estas cerimónias, como Lorentz, J.J. Thomson e o próprio Einstein...", referiu Mário Silva [1]. O Instituto do Rádio de Paris era então um dos maiores centros mundiais de investigação na área da Física Atómica. Mário Silva abriu as suas portas a outros investigadores portugueses que por lá passaram, como foi o caso de Manuel Valadares, outro grande físico português. Manuel Valadares viria a trabalhar com Rosenblum, então director de pesquisas do Laboratoire de l´Electroaimant em Bellevue, onde foi instalado o famoso grande electro-íman.

Mário Silva chegou a Paris em Setembro de 1925 sem carta de apresentação ou recomendação para pessoas ou entidades francesas. Nem sequer para o Instituto do Rádio onde iria trabalhar. Quando chegou a Paris foi falar com um dos maiores democratas portugueses da I República, Affonso Costa, nessa altura exilado em Paris, e para quem levava uma carta de recomendação escrita por Gaspar de Lemos, grande democrata da Figueira da Foz, correligionário político e grande amigo do pai de Mário Silva e que havia sido ministro da agricultura do governo presidido por Affonso Costa. Na altura da apresentação, ao saber que desejava frequentar o Laboratório Curie, prometeu-lhe nesse mesmo momento que o apresentaria a Paul Langevin, seu grande amigo. Affonso Costa impressionou-o pelas suas ideias sobre a exploração de rádio em Portugal e a concessão que havia sido dada aos ingleses na Urgeiriça. Mário Silva não esqueceu e lembrou o papel de Affonso Costa, dado o seu prestígio junto da comunidade científica francesa. Na inauguração do ano académico do ano lectivo de 1925-1926, Affonso Costa foi a primeira pessoa a ser apresentada, pelo mestre de cerimónias, ao novo reitor da Universidade de Paris. Deste prestigio beneficiariam o nome de Portugal e os portugueses que viviam em França. Foi devido a ele que o jovem físico de Coimbra receberia um ofício datado de 1 de Dezembro de 1925 do então secretário da Société de Chimie-Physique, Charles Marie, grande amigo de Affonso Costa, convidando-o para sócio. Posteriormente, em 16 de Janeiro de 1926, já com provas dadas, foi eleito sócio da Société Française de Physique. Foi membro destas associações científicas pela vida fora. No escritório de Affonso Costa, no Banco Nacional Ultramarino, rue du Helder nº 8, em Paris, conheceu outras grandes figuras da democracia portuguesa, como o General Norton de Matos, António Sérgio e a escritora Virgínia Lopes de Almeida [2].

Foi recebido por Madame Curie no seu segundo dia em Paris. Expôs-lhe o objectivo da sua missão e o seu desejo de preparar uma dissertação de doutoramento. Madame Curie lamentou que a Universidade de Coimbra não tivesse feito o pedido de inscrição na devida altura, pois as inscrições já haviam sido fechadas para o ano escolar que ia precisamente abrir. Mas a sua bondade não permitiria que um jovem português cheio de entusiasmo pela Ciência, tivesse que voltar a Coimbra e aguardar mais um ano. Por isso, e por se tratar de um assistente enviado para Paris pela Universidade de Coimbra «et pour rendre service à l´Université de Coimbra» o admitia no seu próprio laboratório pessoal. E fez-lhe o convite para ajudar o seu assistente, Marcel Laporte, na parte experimental das suas lições. Nesse tempo, Madame Curie fazia o curso de radioactividade para os alunos da Faculdade de Ciências da Universidade de Paris [2].

Nos primeiros tempos sentiu a falta de preparação científica, especialmente em Física, para acompanhar o ritmo e o alto nível científico do trabalho no Laboratório. Em 1925, vinte anos após a sua publicação, a Teoria da Relatividade ainda não tinha chegado a Coimbra. Nem uma simples referência lhe havia sido feita durante a sua licenciatura. Pensou, naqueles primeiros tempos, regressar a Coimbra, tal era a sua frustração. Mas resistiu. Passou a frequentar na Sorbonne e no Collège de France cursos de Física e Matemática. Foram seus mestres grandes cientistas. Jean Becquerel, filho do célebre Henri Becquerel, foi seu professor no curso geral de radioactividade, dado no Jardin des Plantes; Paul Langevin em física no Collège de France; Goursat em cálculo diferencial e integral; Borel em cálculo de probabilidades; Hadamart em análise matemática; Louis de Broglie no curso de mecânica ondulatória. Assistiu ainda aos cursos de Madame Curie e de Debierne, subdirector do Laboratório Curie.

Em Janeiro de 1957, num artigo publicado numa edição da «Seara Nova» dedicada à energia nuclear, Mário Silva recordava os trabalhos e o ambiente que então se vivia no Instituto do Rádio de Paris: "Para além da actividade docente, Madame Curie vivia mais intensamente os trabalhos de investigação dos que, como eu, preparavam dissertações de doutoramento. O trabalho era intenso, feito numa atmosfera de entusiasmo e de expectativa. Embora nenhuma descoberta sensacional tivesse sido revelada nesse período pré-atómico de 1925-1930, sentia-se, porém, que «alguma coisa» iria surgir de um momento para o outro. Holweck, depois de ter completado os seus trabalhos sobre os espectros de Raios X moles, atacava a fundo o problema da constância das transformações radioactivas, ao mesmo tempo que obtinha os primeiros resultados positivos de televisão. Ainda me recordo que, à falta de outro motivo mais característico, se servia do nariz adunco e bastante saliente do seu dedicado colaborador, Pierre Chevalier, para mostrar o sucesso do seu primitivo dispositivo de televisão, projectando-o num écran de experiência, por forma que todos imediatamente o identificavam. Apesar destes sucessos, era, porém, o problema do núcleo o que mais interessava Holweck. Entre outros ensaios lembro-me de que se servia de fortíssimas descargas eléctricas que volatilizavam fios metálicos sobre os quais fazia um depósito de material radioactivo. Foram sempre negativos estes ensaios e, assim, Holweck confirmava a opinião de que os núcleos radioactivos se mantinham estranhos a qualquer acção exterior que tentasse modificar o seu ritmo de transformação. Quanto a Debierne, então já investigador célebre pela sua descoberta do actínio nos primeiros tempos da radioactividade, nessa época isolava-se um pouco do movimento geral do Instituto, entregando-se a trabalhos de outra natureza. Embora investigador que raras vezes falava, sabia-se da sua presença no Laboratório pelos silvos estridentes do seu pião giroscópio a que imprimia velocidades de rotação fantásticas com o fim de verificar experimentalmente a variação relativista da massa dos corpos com a velocidade... Havia Frilley, que tinha começado os seus trabalhos sobre espectografia de raios gama, por difracção cristalina; H. Jedrzejowski e Consigny, que efectuavam diversas investigações sobre raios alfa; M.lle Chamié e Madame Sonia Cotelle, em trabalhos de rádio-química; Proca que, não tendo ainda experimentado a sua vocação para a Física Teórica, onde viria mais tarde a ser um Mestre, tentava sem sucesso trabalhos experimentais que, embora executados com excelente técnica, nunca o conduziram a trabalhos dignos de nota. Mas, entre todos, o mais entusiasta, o mais dinâmico, o mais persistente nos seus trabalhos, era Salomon Rosenblum com quem mantive uma camaradagem de uma profunda e sólida amizade. Foi assim, com o seu dinamismo aliado a uma esclarecida imaginação, que ele conseguiu ser o primeiro a publicar descoberta de vulto: a estrutura fina dos raios alfa que abriu clareiras novas sobre a estrutura do núcleo, nesse tempo perfeitamente obscura.".

Naquele período pré-atómico, único período em toda a sua vida em que pôde dedicar-se, de facto, à investigação científica, publicou vários e importantes trabalhos. Em 1926 publicou, em colaboração com Marcel Laporte, a comunicação à Academia das Ciências de Paris «Mobilité de ions négatifs et courants d´ionisation dans l´argon pur». Por indicação de Madame Curie aplicou aquele método de ionização do argon à determinação do período de vários elementos radioactivos, nomeadamente ao polónio. Verificou que o valor até então referido na literatura não era correcto. O seu valor actual é muito próximo do valor então determinado [3]. Madame Curie, no seu tratado sobre radioactividade, indica para o período do polónio o valor determinado por Mário Silva. Em 1927 publicou duas comunicações: «Sur une nouvelle détermination de la periode du Polonium» e «Sur la déformation de la courbe d´ionisation dans l´argon pur par addition d´oxygène». Em 1928 publicou «Sur l´affinité de l´oxygène pour les électrons» e «Electrons et ions positifs dans l´argon pur» e em 1929 «Recherches espérimentales sur l´électroaffinité des gaz». Foram todos apresentados à Academia das Ciências de Paris por Jean Perrin. Todos estes trabalhos são prova de uma árdua actividade científica. Após o seu doutoramento em 1928, do qual foram júris três eminentes cientistas, Madame Curie, Jean Perrin e Debierne e, numa altura em que se iam iniciar importantes trabalhos na área da fissão nuclear, Mário Silva foi obrigado a regressar, apesar dos apelos feitos à Universidade de Coimbra, por Madame Curie, para que continuasse em Paris.

No artigo «Velhas Recordações do Laboratório Curie» publicado na revista «Seara Nova» em 1957 escreveu: "... Obtido o desejado Doctorat d´Etat, ès-sciences, com a apresentação de uma dissertação sobre a electroafinidade dos gases, Salomon Rosenblum aconselhou-me a permanecer em Paris onde começava, na verdade, a sentir-se com perfeita nitidez o desabrochar de uma nova era no estudo dos núcleos atómicos. Com os seus trabalhos, Rosenblum dava os primeiros passos, e o seu entusiasmo multiplicava-se em novos projectos de investigação. Por meu lado, enveredei pelo caminho da técnica das altas tensões que então já se mostrava indispensável para o ataque do núcleo atómico. Procurei reproduzir no Laboratório, por via experimental, o mecanismo da formação das trovoadas onde facilmente a Natureza produz tensões da ordem dos milhões de volts, para o que, entre outros dispositivos, me servia de jactos de finíssimas gotículas de mercúrio electrizadas... Estes ensaios tiveram, a breve trecho de ser interrompidos porque... de Coimbra começaram a exigir, com uma insistência cada vez mais acentuada, mesmo sem atenderem à opinião em contrário de Madame Curie, o meu imediato regresso a Coimbra... e para quê - santo Deus!... para dar aulas na velha Universidade... Conformei-me e parti... tanto mais que de lá, entretanto, chegava uma notícia agradável... a da criação do Instituto do Rádio de Coimbra...".

Os acontecimentos relacionados com o Instituto do Rádio de Coimbra marcariam para sempre Mário Silva. Num artigo, que corajosamente publicou, no Jornal Notícias de Coimbra em 1938, lembrava: "... No meu tempo, o Instituto de Rádio de Paris era um pequeno mundo onde se falavam quase todas as línguas; eu era o único português, mas havia, além de franceses, russos, polacos, sérvios, romenos, eslavos, suíços e japoneses... No dia do exame de doutoramento de um investigador do Laboratório, Madame Curie, à sua custa, dava uma festa em honra do novo doutor, durante a qual era da praxe que ela fizesse um discurso de elogio das investigações e dos resultados obtidos. Todos os investigadores do Laboratório se associavam à festa e a aspiração de cada um era, mais do que o doutoramento, a festa e o elogio de Madame Curie. Foi também essa a minha aspiração durante os quatro anos do meu estágio, aspiração que eu tive a felicidade de ver realizada. Dessa festa conservo, contudo, uma recordação que me entristece hoje (1938)... É que Madame Curie, no final do seu discurso, ao formular alguns votos, não esqueceu a Universidade de Coimbra. Fecho os olhos e ainda a vejo, com a sua taça erguida, saudar o país distante que lhe tinha dado a alegria de fundar um Instituto do Rádio, lembrando mais uma vez que seria com alegria que viria visitar-nos para assistir à sua inauguração. Mal diria eu então, ao agradecer comovido a saudação, que os anos iriam passar uns após outros, vazios e inúteis por deliberada e malévola intenção de responsáveis que a História um dia há-de severamente julgar, que o Instituto do Rádio de Coimbra acabaria por ser esquecido, lamentavelmente, pela própria Universidade, e que nós todos, nesta Coimbra sempre desprezada, neste velho burgo em que nascemos, nunca teríamos o orgulho de receber e festejar aqui essa gentilíssima figura de mulher e genial cientista que foi Madame Curie".

 

E a Triste História do Instituto do Rádio de Coimbra...

Mário Augusto da Silva criou em Coimbra, em 1931, o "Instituto do Rádio da Universidade de Coimbra". Naquele tempo ninguém poderia negar o interesse da investigação nesta área científica. As radiações emitidas por isótopos radioactivos têm tido um vasto campo de aplicação, nomeadamente na Medicina. Por outro lado, a fusão nuclear constituirá a única alternativa energética viável para as gerações do futuro. É a fonte mais poderosa de energia que o Homem conhece. A energia resultante das reacções de fusão nuclear é, ao contrário da subjacente às actuais centrais de fissão, uma energia muitíssimo mais "limpa". Esses reactores alimentar-se-ão com a água dos Oceanos! Infelizmente, a tecnologia actual não nos permite, ainda, dominá-la.

Em 1930 foi criada uma comissão instaladora constituída por Mário Silva e Ferraz de Carvalho como representantes da Faculdade de Ciências, Álvaro de Matos e Feliciano Guimarães pela Faculdade de Medicina. No princípio de 1931 o Instituto do Rádio de Coimbra estava completamente instalado e pronto a funcionar. Contudo, tinha chegado a hora da vingança. Começava, na verdade, a perseguição a Mário Silva, que se preocupava na altura em continuar os seus trabalhos de investigação científica. Os pseudo-religiosos conservadores e fascistas de Coimbra que não gostaram, imagine-se, do seu ensaio, publicado cerca de 8 anos antes, estavam agora no poder. Não deixou contudo de denunciar a perseguição. Fê-lo, no auge do fascismo, cerca de 8 anos após a criação do Instituto do Rádio de Coimbra, num artigo publicado no jornal «Notícias de Coimbra», no dia 4 de Dezembro de 1938, intitulado «Madame Curie - No 40º aniversário da descoberta do Rádio»: "... Tantas vezes, realmente, a ouvi falar de Coimbra que não descansei enquanto não consegui um meio de provar-lhe que, reconhecida, a velha Universidade portuguesa, a ia homenagear... A homenagem a prestar-lhe devia, pois, ter em atenção as suas predilecções e o seu ideal de vida. Nada melhor podia ter arranjado do que comunicar-lhe, um dia, que a Universidade de Coimbra ia ter, como a sua Universidade, um Instituto do Rádio, feito à imagem e semelhança do seu próprio Instituto. Era a projecção da sua obra no pequeno mas agradecido país do Ocidente da Europa; era continuar aqui a ciência que ela tinha criado e que constituía toda a ambição da sua vida. A ideia tinha sido feliz! Foi com a alegria de uma criança que acaba de ter um brinquedo desejado que Madame Curie me felicitou e se felicitou por saber que mais um Instituto do Rádio ia aparecer consagrado às investigações e às aplicações do «seu Rádio». Tão grande foi essa alegria que logo me propôs deslocar-se a Coimbra para assistir à inauguração do Instituto. Foi esta a agradável notícia que eu trouxe para Portugal quando regressei em 1929. A todos anunciei que Madame Curie viria expressamente a Coimbra, e só a Coimbra, assistir à projectada inauguração do novo Instituto do Rádio de Coimbra para cuja criação, eu e o Prof. Álvaro de Matos, da Faculdade de Medicina, tanto havíamos trabalhado. Na verdade, juntos, havíamos conseguido obter, tempos antes, do Ministro das Finanças, General Sinel de Cordes, um subsídio de 600 contos com o qual imediatamente se fizeram as primeiras encomendas de diverso material para as Secções de Física e de Medicina que deveriam trabalhar em íntima colaboração. No meu regresso a Coimbra, o material havia começado a ser instalado. Foi, pois, também com alvoroço que o Prof. Álvaro de Matos recebeu a boa notícia da vinda de Madame Curie. Redobrámos, por isso, os nossos esforços para abreviar a inauguração. Neste sentido trabalhámos sem descanso, mas todos esses esforços se quebraram perante uma inexplicável e odienta teimosia, invejosamente desenvolvida na sombra contra nós, que impediu, sistematicamente, a publicação do diploma oficial que devia criar os quadros do pessoal técnico e auxiliar, bem como regulamentar o funcionamento do Instituto. E é por isto e só por isto, sem outras razões que, nove anos depois, neste fim de ano de 1938, o Instituto do Rádio de Coimbra continua com as suas portas fechadas; o pior - e isso é que é profundamente mais doloroso - é que o falecimento de Madame Curie que entretanto sobreveio, acabou por inutilizar o projecto da sua vinda a Coimbra em cuja realização empenhei o melhor da minha boa vontade. À sagrada memória de Madame Curie devo esta declaração de consciência...". No fim dos anos trinta um terramoto algo intenso partiu as ampolas de rádio e as portas fecharam-se.

Numa sua biografia da autoria de Eduardo Caetano [2] pode ler-se: "Na altura o Prof. Mário Silva não podia dizer mais. Vivia-se então o apogeu do regime salazarista. A verdade é que o Prof. Salazar nunca permitiu a aprovação do Decreto-Lei criando o Instituto do Rádio de Coimbra... No entretanto, o Prof. Francisco Gentil veio a Coimbra ver as instalações e pouco tempo depois surgia o Instituto do Rádio de Lisboa! Porque é que Lisboa podia ter um Instituto do Rádio e Coimbra que começara muito antes não? Não há dúvida nenhuma de que o Prof. Mário Silva era, e seria, maldosamente hostilizado em escalão muito elevado...".

Acerca do Instituto do Rádio de Coimbra escreveu, igualmente, Sant´Ana Dionísio, num artigo sobre o Físico Salomon Rosenblum "Um Cientista que desaparece", em Janeiro de 1960: "... Pode-se imaginar o que teria sido esse Instituto se tivesse tido como colaborador desde a sua fundação um cientista tão ilustre e dinâmico como o Dr. S. Rosenblum...". Aliás, num artigo citado por Sant´Ana Dionísio, escreveu com amargura Mário Silva: "... agora, 26 anos volvidos, no rodar dos tempos, sobre essa instalação, o Instituto continua com as suas portas fechadas, abandonado e esquecido pela Universidade que deveria ter feito dele o nosso primeiro Instituto de Física Nuclear e o nosso primeiro Instituto de Oncologia. Mas não foi assim e, por isso, continuamos ainda hoje a aguardar a sua inauguração, não se sabe mesmo até quando...". Finalmente em 1963 escrevia com desgosto [1]: "Porém, agora, em 1963, ... tudo acabou! As instalações de radiodiagnóstico e de radioterapia foram desmanteladas e as salas...foram adaptadas a outros serviços. Afastado do serviço docente há muitos anos, por motivos políticos que muito me honram, até mim ninguém chegou pedindo informações ou qualquer sugestão quanto ao destino a dar ao material que constituía o recheio da secção médica do Instituto. Sei apenas que o material foi desmontado e distribuído pelo novo Laboratório de Radioisótopos, há anos criado na Faculdade de Medicina, e pelo Laboratório de Física da Faculdade de Ciências, onde continua a existir todo o material, comprado, logo de início, para a sua Secção de Física. E assim, por forma tão insólita, morreu um Instituto que - pode dizer-se - nunca chegou propriamente a viver.".

A este respeito quero ainda lembrar as palavras de Eduardo Caetano na excelente biografia que, como discípulo de Mário Silva e conhecedor das injustiças que lhe tinham sido movidas por Oliveira Salazar, resolveu, num acto louvável, escrever: "Os portugueses não poderão deixar de lamentar que este projecto do então jovem físico e cientista Prof. Mário Silva iniciado em Portugal com a colaboração de alguns, como Álvaro de Matos, Carlos Santos e Moura Relvas na Medicina e Luís Carriço na Botânica, tivesse sido abortado devido aos «espíritos maléficos». Nem se pedia que o ajudassem, a não ser materialmente, mas tão-só, que não o impedissem de trabalhar. Que obra notável se poderia ter desenvolvido para bem de portugueses doentes, para bem da Ciência e Tecnologia, para bem do Homem! Imagine-se só, por alguns momentos, este Instituto a trabalhar com Mário Silva, Salomon Rosenblum, A. Proca, S. deBenedetti e G. Beck e tantos outros nacionais e estrangeiros que viriam atraídos pelos trabalhos que certamente se realizariam e pelo alto nível científico que o Instituto não deixaria de ter. Que pena!".

A hostilidade para com Mário Silva fica bem expressa noutro triste acontecimento. Mário Silva foi convidado oficialmente pelo governo francês para, em 1967, assistir ao primeiro centenário do nascimento de Madame Curie. Alguns meses antes do honroso convite, propôs ao presidente da Academia das Ciências de Lisboa a realização de uma sessão comemorativa. Esta proposta não mereceu, lamentavelmente, qualquer andamento. Todavia, em Paris, Mário Silva verificou que a Academia das Ciências de Lisboa, da qual era membro desde 1939, se havia feito representar por um francês em vez de ter enviado um dos seus membros, na qualidade de seu representante. O pior é que aquele representante não assistiu a nenhum dos actos ou sessões comemorativas, nem sequer deu nota que representaria a Academia das Ciências de Lisboa. Para vergonha dos portugueses foi a única Academia das Ciências do mundo que não enviou representante ou delegação nacional [1-2].

O impacto que o referido Instituto teria tido no desenvolvimento científico português e no bem estar dos portugueses não é mensurável e a sua proibição constituiu um rude golpe no desenvolvimento da Ciência e Tecnologia em Portugal. Ainda mais porque, em 1940, Mário Silva pretendeu criar uma Escola de Física Nuclear. Acolheu em Coimbra, durante a 2ª Guerra Mundial, alguns físicos de renome que, fugidos ao regime totalitário nazi, ali procuraram refúgio. Conheceu-os no Instituto do Rádio de Paris. Guido Beck (austríaco), Sergio deBenedetti (italiano) e Alphonse Proca (romeno) foram propostos por Mário Silva à Universidade, mas a proposta não teve seguimento..., foram perseguidos e acabaram por ser expulsos de Portugal, por serem antifascistas e de ascendência judaica (excepto A. Proca), não fossem infectar os chamados valores tradicionais portugueses. Estes cientistas foram imediatamente admitidos noutros centros de investigação. Beck - Universidad de Cordoba, deBenedetti - Carnegie Institut of Technology, Pittsburgh e Proca regressou ao Instituto do Rádio de Paris.

Aproveitando a estada destes cientistas em Coimbra, Mário Silva dinamizou um curso intitulado "Introduction Physique et Philosophique à la Théorie des Quanta", que chamou a atenção da comunidade científica internacional e onde participaram outros nomes da Ciência Portuguesa deste século como Magalhães Vilhena, Pacheco de Amorim, Manuel dos Reis e Vicente Gonçalves, entre outros. Existe uma carta de Jean Thibaud solicitando à Universidade de Coimbra as lições aí proferidas. Escreveu Eduardo Caetano [2]: "A apatia intelectual que então se vivia era tão grande que, embora convidados, ninguém de Lisboa e do Porto se interessou por este notável curso... Infelizmente também aqui os «espíritos maléficos» voltaram a fazer sentir a sua acção obrigando a sair do país o Prof. Guido Beck e interrompendo assim o curso... Para a época o curso era uma pedrada no charco! Era o dinamismo criador contra o marasmo estéril! Era a agitação intelectual insatisfeita contra o imobilismo acomodatício e rotineiro... E daí a oposição sistemática a todas as ideias criadoras do Mestre! Mas, apesar de tudo lutava, lutava sempre por um mundo melhor, à sua maneira e no seu campo de acção. Porque a têmpera excepcional de que era dotado o fazia reagir e vencer obstáculos que constantemente e sistematicamente lhe bloqueavam o caminho. Por inveja e despeito dos pigmeus perante o saber, a inteligência e a força criadora do gigante. Eles pouco ou nada fizeram. Muito pouco ou nada produziram, de interesse, de real valia. E por isso sentiam-se pequeninos, complexados, inferiorizados. E daí semear escolhos a barrar-lhe o caminho. E, como eram muitos, mesmo pigmeus, tinham a força do número... Todavia o Prof. Mário Silva venceu. Se lhe tivessem permitido teria feito mais, pela Ciência pura e aplicada, pelo ensino científico. Mas a sua obra existe. É indestrutível. E os gnomos passaram. Ninguém mais falará deles!" Será?

Em Coimbra efectuou os primeiros trabalhos sobre radioactividade em águas termais no nosso país. Especialista em radioactividade, reconhecido mundialmente, pôde constatar o quanto atrasado estava o nosso país. A investigação científica era quase inexistente. Tudo fez para aplicar os conhecimentos adquiridos em Paris... A sua revolta ficou bem expressa na dedicatória que escreveu no seu livro «O Elogio da Ciência» em 1970 [1]: "... o autor saúda a generosa Juventude universitária de Coimbra que, hoje, como então, e como sempre desde os tempos de Antero, está empenhada em erguer, sobre os escombros de uma Universidade há muito envelhecida, as paredes mestras de uma Nova Universidade, que seja capaz de, efectivamente, promover o desenvolvimento moral, intelectual e social do país, e possa estar, sem peias nem entraves, ao serviço do desenvolvimento da própria Ciência.".

 
Da Primeira "Emissora Nacional"...

Uma curiosidade foi o facto de, em 1933, Mário Silva ter criado em Coimbra, juntamente com Teixeira Lopes seu assistente e Armando Lacerda, director do Laboratório de Fonética Experimental da Faculdade de Letras, a primeira emissora de rádio do país: a projectada «Emissora Universitária de Coimbra». Ainda não existia a Emissora Nacional. A ideia surgiu após a construção de um pequeno emissor por João Teixeira Lopes (obrigado a afastar-se da Universidade quando Mário Silva foi expulso, tal como todos os seus assistentes). Escreveu Mário Silva em 1963 [1]: "... A ideia da sua construção resultou, em parte, do aproveitamento de uma magnífica fonte de alta tensão, constituída por umas centenas de pequenos acumuladores, que eu havia adquirido no Instituto do Rádio de Paris para servir na Secção de Radioactividade do Instituto do Rádio de Coimbra... o pequeno emissor, cuja potência, na antena, não ia além de 10 W, depressa conseguiu impor-se, fazendo, durante largos períodos de tempo, emissões diárias com agrado geral para a grande maioria dos radiófilos da época...". O emissor chegou a ter 400 W de potência. Por este motivo escreveu: "...O que se pedia para pôr a funcionar a Emissora Universitária reduzia-se a umas escassas dezenas de contos. Pois nem assim foi possível vencer a má-vontade dos que, incompreensivelmente, se conluiaram para impedir que à Universidade fosse dada a sua Emissora...". No prefácio do seu livro «Elogio da Ciência» escrevia: "... Que poderia ter sido facho aceso no cimo da Colina Sagrada e ter servido assim como centro, altamente simbólico, de irradiação da Ciência que à Universidade compete ensinar em todos os seus múltiplos aspectos e difundir sob todas as formas...".

Após um ciclone em Fevereiro de 1941 ficaram cortadas todas as comunicações de Coimbra com o exterior. Então, a administração dos C.T.T. pediu ao Laboratório de Física a cedência do Emissor Universitário a fim de as poder manter. Mário Silva concordou. Na altura proibido de funcionar devido à oposição da Emissora Nacional, o emissor mantinha-se contudo operacional. Lamentava-se Mário Silva, muitos anos depois: "... não só não conseguira fazer vingar a Emissora Universitária de Coimbra como o emissor se voltou contra mim por a PIDE se querer aproveitar do caso, aquando da minha prisão..." [2].

Ainda não existia a Emissora Nacional quando foi fundado por Mário Silva, à margem da Universidade e em colaboração com António Neves, Abílio Lagoas e outros radioamadores, o Rádio Clube do Centro de Portugal [2].

 
A Necessidade da Luta Política...

A Mário Silva foi-lhe negada a possibilidade de fazer investigação científica, quando tinha apenas trinta anos e era já Professor Catedrático de Física da Universidade de Coimbra e director do Laboratório de Física. Nos anos trinta, Mário Silva viveu totalmente absorvido com os seus trabalhos, mais voltados à docência e menos à investigação por força das circunstâncias. "Como professor, Mário Silva elevou o nível das suas aulas a par do que havia então de melhor em qualquer universidade europeia ou americana. Não há qualquer exagero nesta afirmação. Quando o Prof. Rodrigo Sarmento de Beires veio leccionar «Correntes Fortes» no último ano de Electrotecnia da Faculdade de Engenharia do Porto dispensava das primeiras aulas os antigos alunos do Prof. Mário Silva da cadeira de «Electricidade», no terceiro ano da Faculdade de Ciências de Coimbra. Esta atitude única dum professor tão competente e exigente como Sarmento Beires demonstra bem o alto conceito em que situava as lições do Mestre de Coimbra...", como referiu um antigo aluno seu [2].

Publicou todas as suas lições. Traduziu alguns livros, entre os quais «O Significado da Relatividade» de A. Einstein e «Pensamento Científico Moderno» de Jean Ulmo. Este último em 1963. Verificou, com apreço, que a sua tese filosófica, contida na oração de sapiência intitulada «Elogio da Ciência» que proferiu na abertura solene do ano lectivo de 1942, seria justificada com o maior relevo naquele livro. Escreveu, entre outras, uma obra de Física Teórica de grande valor que, infelizmente, ficou incompleta devido ao tremendo efeito que lhe causaram a prisão em Agosto de 1946 e a sua aposentação compulsiva da Universidade no ano seguinte. Aliás, o primeiro livro sobre as equações de Maxwell foi brochado quando estava preso pela PIDE no Porto. Para ali lhe foram enviados os primeiros cem volumes, para rubricar, em virtude de ter reservado os direitos de autor. É interessante notar que foram vendidos em Coimbra pela Coimbra Editora, da qual Salazar era sócio, não obstante o Professor ter escrito, à mão, em todos os exemplares: "Nas prisões da PIDE do Porto, em Outubro de 1946. Mário Silva". Foram seus companheiros de prisão, entre outros, Ruy Luís Gomes, Cal Brandão, Azeredo Antas, Helder Ribeiro e Domingos Pereira, antigo Presidente do Conselho de Ministros.

Uma curiosidade é que para além de ter sido preso, sem sobre ele existir qualquer acusação, a sua libertação foi obra de um mero acaso. Aqui fica um pequeno relato que Rangel de Lima contou a Mário Silva [2]. Um dos seus filhos, também engenheiro, havia casado com uma filha do capitão Catela, director da PIDE. Tinha sido aluno de Mário Silva. Assim que soube que o Professor estava preso na polícia política do Porto insistiu com o sogro para saber os motivos que levaram a PIDE a prender o seu antigo professor. E daí a análise do processo e a liberdade. Foi, afinal, uma circunstância marginal ao processo que restituiria a liberdade a Mário Silva. E se não existisse? Contou ainda Rangel de Lima que, dias depois do Professor ser posto em liberdade, Salazar soube por outrem da decisão do director Catela. Chamou-o ao seu gabinete para o invectivar nos seguintes termos: "Então o senhor pôs em liberdade o Dr. Mário Silva, aquele agitador de Coimbra que estava preso no Porto?" O Capitão Catela respondeu-lhe que não havia razões nem provas que justificassem a sua prisão e, portanto, ele e o director da PIDE do Porto haviam decidido pô-lo em liberdade. Alguns meses depois o capitão Catela morreu sentindo sempre, segundo o relato de Rangel de Lima, a hostilidade de Salazar contra ele, a partir daquele encontro. Algum tempo após a sua morte, um ministro apresentou em Conselho de Ministros uma proposta com a finalidade de ser concedida uma pensão à viúva do capitão Catela. Salazar recusou- -a.

Perdeu-se o Cientista, ganhou-se o Democrata. O célebre despacho da Presidência do Conselho, trágico para Portugal e que Mário Silva encabeçava, privou-o da carreira para a qual tinha nascido. Único membro português da American Physical Society, chegou a ser vendedor de vinho espumante das Caves Vice-Rei. Foi um excelente vendedor, pois todos compravam muitas garrafas de espumante como prova da sua solidariedade. Apesar de diversos convites de instituições estrangeiras, Mário Silva foi obrigado a recusá-los porque nem o direito ao exílio lhe foi concedido. Posteriormente, e nesse ano de 1947, a Philips Portuguesa nomeou-o seu conselheiro científico, cargo que ocupou até se reformar em 1965. Após a sua reforma e como explicador de Física, chegou a ter cerca de 200 alunos (!). Na cave de sua casa na Quinta do Espinheiro, na Rua Bissaia Barreto em Coimbra, existia uma autêntica sala de aulas.

Nos anos trinta não esteve envolvido em nenhuma actividade política, não deixando de ter largas discussões sobre Filosofia e Ciências Políticas numa tertúlia de que faziam parte, entre outros, Teixeira Ribeiro, Manuel dos Reis, José Oliveira Neves e Anselmo de Castro. A sacudidela no marasmo político português verificou-se devido à guerra civil espanhola. Todos os democratas de então uniram esforços. Os oposicionistas ao regime vigente uniram-se. A democracia no mundo estava em perigo. O fascismo e o nazismo, em escalada verdadeiramente imparável, atingiam o seu apogeu no início da 2ª Guerra Mundial. Só em plena 2ª Guerra Mundial se envolveu, juntamente com outros ilustres democratas, em actividades políticas activas em favor da democracia [2].

Foi membro, como representante por Coimbra, do Comité Nacional do MUNAF, Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista, do qual era presidente o General Norton de Matos. Foi membro da sua Comissão Executiva, orgão máximo do movimento, a convite de Bento de Jesus Caraça. Com a estruturação do MUD, Movimento de Unidade Democrática, Mário Silva foi vice-presidente da sua Comissão Distrital por Coimbra, tendo convidado para a presidência Anselmo Ferraz de Carvalho. Quando a oposição democrática se reorganizou a seguir ao acto eleitoral de Humberto Delgado, reunindo todas as facções antifascistas, com a excepção dos comunistas a fim de não ser considerada clandestina, tomou o nome de ADS, Acção Democrática Social, a qual era liderada por Cunha Leal. Embora com certa relutância, por considerar Cunha Leal parcialmente responsável pelo aparecimento do regime salazarista, aceitou o convite para participar nesta organização. Para Mário Silva, Cunha Leal teve o mérito de aglutinar à sua volta a oposição não comunista, unindo-a, com a excepção dos que, após a cisão provocada por Mário Soares, se afastaram da ADS. Do distrito de Coimbra acompanharam Mário Soares, entre outros, Paulo Quintela, Adolfo Rocha (Miguel Torga) e Fernando Vale [2].

Alguns professores da velha Universidade de Coimbra, como Ferraz de Carvalho, Teixeira Ribeiro e Paulo Quintela, pertenciam à oposição. Mas, naquela época de fascismo triunfalista, só Mário Silva foi membro activo de organizações clandestinas antifascistas. Mais tarde, levou Ferraz de Carvalho e Lúcio de Almeida a pertencerem a algumas dessas organizações. É pois com inteira justiça que se poderá considerar Mário Silva o universitário coimbrão mais acérrimo, perseverante e actuante opositor do regime salazarista. Pelo menos esta ideia ele a tinha e nisso sentia muito orgulho [2]. Considerou o dia 25 de Abril de 1974 como o dia mais feliz da sua vida. Acabava nesse dia um regime que longamente o hostilizou, obstruiu, prendeu e o expulsou da Universidade. Contudo, sobressaltou--se quando se apercebeu que a luta contra o totalitarismo, agora de sinal oposto, ainda não tinha terminado. Viu, com desgosto, repetirem-se as lamentáveis cenas por que tinha passado muitos anos antes e contra as quais tinha lutado toda a sua vida. Mancharam os ideais da Revolução. Felizmente a Democracia venceu! Finalmente, e só no dia 11 de Fevereiro de 1976 (!), foi reintegrado. No jornal «A Luta», Raul Rego assinava um artigo de fundo que intitulou «Reintegração» e escrevia: "Não se pode dizer que tenha sido pronta a justiça feita a Mário Silva agora reintegrado como Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Vinte e dois meses depois da revolução chegou a sua hora..." (?).

 
E a Defesa do Património e a sua Contribuição para a História da Ciência
 
 
A Criação do Museu Pombalino de Física da Universidade de Coimbra...

Historicamente, o Museu de Física da Universidade de Coimbra foi criado pelo Professor Mário Augusto da Silva. A ideia da sua criação surgiu-lhe quando, em meados dos anos trinta, recebeu uma carta da Direcção Geral da Fazenda Pública para que elaborasse um inventário do laboratório que dirigia. Foi então que deparou com um património valioso, único no mundo. Embora dele quase nada restasse, empreendeu um trabalho excepcional na sua recuperação, demonstrando as extraordinárias condições criadas pela reforma pombalina de 1772 para a realização da investigação científica em Portugal e, diga-se, sem paralelo na nossa História.

Em Junho de 1937, numa carta enviada ao director da Faculdade de Ciências, quando descobriu os factos históricos relacionados com o antigo Real Gabinete de Physica da Universidade de Coimbra, escreveu "... Tem este Gabinete... uma história digna do melhor apreço. Foi criado nos fins do Século XVIII, logo a seguir à grande reforma pombalina de 1772, com tal magnificência e com uma tal variedade de material científico que o próprio Marquês de Pombal, em carta dirigida ao então Reitor, D. Francisco de Lemos, lhe recomenda toda a atenção para o Gabinete, "visto ser o melhor da Europa, melhor do que o de Pádua (acentua bem o Marquês) que possui apenas 400 máquinas, quando o nosso possui mais de 500". Para instalar e dirigir o Gabinete, o Marquês de Pombal contratou o célebre professor italiano João António dalla Bella que foi, por esta circunstância, o primeiro professor de Física da Faculdade...". Sobre o Professor dalla Bella o Professor Mário Silva, numa comunicação apresentada ao Congresso da História da Actividade Científica Portuguesa, realizado em Coimbra, em Novembro de 1940, afirmou: "...Tivesse sido acarinhado e mantido o impulso inicial, tivesse sido outro o ambiente social do país e teríamos tido, em Coimbra, larga produção científica, da qual, hoje, nos poderíamos certamente orgulhar. A valorizar, logo de princípio, esse magnífico conjunto de trabalhos, não faltou sequer a descoberta sensacional de uma lei fundamental da Física: a lei das acções magnéticas...este trabalho é de 1782... ", como se sabe atribuída a Coulomb que a publicou em 1785. Contudo, o impulso inicial foi esmorecendo. Dos sucessores de dalla Bella, o Professor Mário Silva distinguiu dois pela qualidade dos seus trabalhos de investigação científica: O Professor Lacerda Lobo, imediato sucessor de dalla Bella, e o Professor Souza Nazareth, que publicou isoladamente, em 1915, o excelente trabalho «Ionização dos gases em vaso fechado». Segundo o Professor Mário Silva o Professor Nazareth esteve muito próximo de descobrir uma partícula nuclear: o neutrão.

Em Junho de 1938, na sequência do trabalho realizado, apresentou à Academia das Ciências de Lisboa, da qual era membro, uma comunicação a que deu o título de «Um novo Museu em Coimbra: O Museu Pombalino de Física da Faculdade de Ciências da Universidade», posteriormente publicada na Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. A importância do novo Museu era realçada: ""Quando, há anos, tomei conta da Direcção do Laboratório de Física da Universidade de Coimbra, estava bem longe de pensar que no desempenho, por assim dizer, das minhas funções me seria dado a empreender um trabalho de investigação e de reconstituição históricas que os meus antecessores, professores e directores ilustres que foram deste Laboratório, não só não tiveram o menor interesse em fazer, como até, inexplicavelmente, o prejudicaram, deixando que se perdessem alguns dos mais valiosos elementos do seu estudo. Felizmente, nem tudo se perdeu, e daí a razão do meu trabalho. Quero referir-me ao antigo Gabinete de Física criado em Coimbra pelos Estatutos pombalinos de 1772, ao que ele foi, no tempo em que, com toda a magnificência, foi instalado pelo Marquês de Pombal; quero referir-me sobretudo às vicissitudes por que passou até hoje, ao estado lamentável em que o fui encontrar, mutilado e disperso, e ao estado em que actualmente se encontra, depois da reconstituição que me foi dado empreender. Se este estado, hoje, mal reflecte a antiga grandeza, permite-nos contudo ainda admirar algumas das suas curiosidades, incontestáveis elementos de valor, quer consideradas no ponto de vista artístico, quer no ponto de vista da História da Ciência, susceptíveis de constituirem no seu conjunto, tal como foram reunidas, um Museu digno de ser conservado, um valioso Museu de Física do século XVIII.". Com base no livro Index Instrumentorum do Professor dalla Bella (1730-1823) conseguiu recuperar cerca de 100 máquinas, das cerca de 600 que existiram no laboratório. A maioria destas máquinas tinham sido vendidas num espalhafatoso leilão que ocorreu à porta do laboratório (!)...

Pelo trabalho realizado recebeu um louvor público em 1942. O Museu ocupava duas salas do primeiro andar do edifício pombalino onde funcionou o antigo Laboratório de Física. À primeira, onde reconstituiu o Gabinete de Física do séc. XVIII, chamou Sala dalla Bella. À segunda, onde expôs os instrumentos do séc. XIX, chamou Sala Figueiredo Freire (ver fotografias). O Museu foi mantido e melhorado pelo Professor Mário Silva até 1947, ano da sua expulsão da Universidade pelo regime salazarista. Infelizmente, há que dizê-lo, os sucessores do Professor Mário Silva mantiveram-no fechado e abandonado até à sua reabertura no dia 29 de Janeiro de 1997, isto é, mais de meio século depois da sua criação. Porquê? A pergunta é pertinente pelo facto de, por várias vezes, aquele património ter estado seriamente ameaçado. O Professor Mário Silva insurgiu-se contra algumas dessas tentativas.

Em 1963, acerca da futura utilização das antigas instalações do Laboratório de Física, escrevia no seu livro «O Elogio da Ciência» [1]: "..Estamos, agora, em 1963, à distância, pois, de um quarto de século da instalação do Museu. Continua a existir, tal como o deixei, em 1947, mas o pior é que começam a levantar-se, de vários lados, ameaças de novas destruições. Prepara-se, na verdade, nova machadada no precioso Museu, desta vez desferida sobre a própria Sala de dalla Bella...". Noutro texto, do mesmo ano, escrevia: "... Assim, ousamos esperar que os actuais responsáveis pela conservação e integridade do nosso património, cumprindo as suas obrigações, saibam deter a tempo o braço sacrílego que ousar levantar-se para cometer o desacato (para não dizer outro nome) que seria destruir a Sala de dalla Bella, obrigando, por esse modo, a retirar do seu ambiente histórico - próprio e único - a valiosa colecção pombalina. Ousamos, realmente, esperar que assim seja. Que desta vez, pelo menos, os espíritos maus que fizeram arrasar o edifício do Observatório Astronómico do Pátio da Universidade - que havia sido construído em 1790 sob a proficiente direcção do insigne lente de Astronomia, Dr. Monteiro da Rocha, e por isso constituía um marco histórico altamente significativo no passado, por tantos títulos notável, do ensino da Astronomia em Portugal - não possam aqui executar a mesma obra sinistra de destruição. Mas se o desacato for praticado, aqui ficam os nossos protestos, e a declaração de que, sejam quais forem as razões invocadas, nunca nos conformaremos com mais essa mutilação desnecessária e maldosa, a juntar a tantas outras que, nos últimos tempos, têm sido cometidas contra o património nacional...". Continuando "... Para que a História a todos nos julgue por forma imparcial, não podemos deixar de transcrever aqui, a propósito da destruição do Observatório Astronómico, estas palavras de O. Salazar, escritas no prefácio dos seus Discursos e Notas Políticas, II, 1935-1937, pág. xx: "...e - Deus me perdoe! - além de muitas outras coisas feias, deitar abaixo aquela excrescência do Observatório Astronómico para deixar intacto aos olhos encantados o panorama maravilhoso do Mondego, das Lágrimas, da quinta das Canas, do Seminário, das encostas de tristes oliveiras..."".

No jornal «O Século», após um primeiro artigo de 23 de Junho, em 24 de Julho de 1969, trinta e um anos após a sua comunicação à Academia das Ciências, escreveu o artigo: «Um Património Nacional na eminência de se perder» (!). Pretendia apelar à tomada de medidas urgentes para a preservação do Museu, não só o seu recheio (mobiliário e instrumentos), mas também as suas instalações onde o mesmo se encontrava guardado. Em 1970, no dia 4 de Dezembro, publicou outro artigo no mesmo jornal, intitulado «A propósito de um bicentenário: o Museu de Física da Universidade de Coimbra», referindo-se, pois, ao bicentenário da reforma pombalina que se deveria comemorar em 1972. Pelos vistos foi o único a interessar-se seriamente numa comemoração condigna daquela data...

Do abandono à destruição foi um passo. Na passagem do 10º aniversário da sua morte, a edição de «O Jornal» do dia 30 de Junho de 1987 noticiava o desaparecimento de uma das máquinas recuperadas pelo Professor Mário Silva com o título: «É a única no mundo» (!). Terá sido recuperada? Foi a única que desapareceu? A máquina desaparecida encontra-se descrita no Index Instromentorum com o nº 494. Provavelmente o móbil do crime foi a magnífica mesa que lhe servia de suporte. O Professor Teixeira Bastos, antigo Director do Laboratório de Física, descreveu-a da seguinte forma: "Outra pequena mesa rectangular de pau preto, semelhante à precedente, mas mais sobriamente decorada, sobre a qual assenta um aparelho de latão para experiências de resistência do ar, apresentando conchas nas quatro faces laterais e tendo quatro pés recurvados para fora e ligados diagonalmente no quarto inferior a uma peça central em forma de boceta". Numa publicação do IPPC - roteiro dos Museus de Portugal - do mesmo ano, podia ler-se sobre o Museu do Laboratório de Física: "Encerrado por deficiência de instalações. Pode ser visitado com o acordo do Director..." (!). Tudo isto é lamentável e deprimente, como muito bem sublinhou o Dr. Raul da Silva Pereira no artigo que publicou no «O Jornal», na sequência da notícia precedente, com o título: «Os Museus da Ciência - parentes pobres da cultura portuguesa»: "... Li com desgosto, embora sem surpresa (!)... Mas é quase certo que poucas pessoas se terão preocupado com o desaparecimento desta pequena «engenhoca», apesar de se dizer que, além de única no mundo, é do séc. XVIII e de fabrico português...". Continuando "... o que se procurava era que, no âmbito dessa comemoração (da reforma pombalina), se incluísse a instalação definitiva do Museu. Mas passou-se o bicentenário, passaram-se mais 15 anos e, pelos vistos, o «património» continua a ser perdido - para além de permanecer desconhecido, praticamente, da totalidade dos portugueses. Que diferença com o que se passa, por exemplo, em Itália com o Museu da História da Ciência em Florença!".

Em Janeiro de 1997, o Departamento de Física resolveu, finalmente, reabrir o Museu de Física. A reabertura deste precioso Museu reforçará a oferta cultural da Cidade e do País. Na cerimónia presidida por Sua Ex.ª o Presidente da República Portuguesa Dr. Jorge Sampaio, discursaram, além do Presidente, o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Sr. Prof. Dr. Rui de Alarcão, e o actual Director do Museu de Física o Sr. Prof. Dr. Providência e Costa. Há que felicitar o Professor Providência e Costa e a sua equipa. Em cerca de um ano fizeram o que os seus antecessores não fizeram em meio século.

 
A Criação do Museu Nacional da Ciência e da Técnica...

Lutou em vão, até à sua morte em 1977, para que o edifício pombalino, onde funcionou o antigo Laboratório de Física (ocupado até à pouco tempo pelo Departamento de Engenharia Electrotécnica), com as suas salas pombalinas, fosse de facto um verdadeiro Museu Pombalino, integrado num espaço museológico mais amplo, como o deveria ser o Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Alguém o conhece, ou melhor, conheceu? Foi a sua última obra que, antes de morrer, pensava ter levado a bom porto. Terá levado? Deve-se a Mário Silva a criação, em 1971, do primeiro verdadeiro Museu de Ciência em Portugal, após uma meritória tentativa, frustrada, de Passos Manuel. Imaginou-o um Museu vivo, dinâmico, com fins educativos múltiplos nos aspectos culturais, didácticos e de investigação. Após a sua morte, em 1977, nada foi feito pelo Museu, bem pelo contrário. Atingiu o seu apogeu, apesar de tudo, precisamente nessa altura. Quem o visitasse depois dessa data, e isto é perfeitamente incrível, entrava e saía sem ter lido, em algum lugar, a mais breve referência sobre o Professor Mário Silva. Hoje, grande parte do seu espólio encontra-se espalhado e amontoado pelo rés do chão do antigo edifício do Colégio das Artes, há cerca de sete anos! O que andam a fazer as autoridades competentes, nomeadamente o Instituto Português de Museus?

A criação do Museu Nacional da Ciência e da Técnica surgiu na sequência da tremenda injustiça que foi feita a Mário Silva pelo regime salazarista. Veiga Simão, seu antigo aluno, quando assumiu a pasta da Educação no regime Marcelista, tentou por todos os meios reintegrar Mário Silva, assim como todos os docentes que, injustamente, foram afastados por Salazar das nossas universidades. Justiça lhe seja feita. Contudo, ele próprio reconhecerá, esbarrou com os "espíritos maléficos". Recompensou-o dos males irreparáveis através da sua nomeação, em 1971, para Presidente da Comissão de Planeamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica. A iniciativa da criação do Museu tinha-lhe sido proposta por Mário Silva, como não é de surpreender. Incompreensivelmente, esta comissão não foi reconhecida oficialmente. Apesar de todos os obstáculos que teve que vencer, e foram demasiados, conseguiu erguer um Museu que, apesar da sua juventude, tinha um espólio valioso. Cumpria todos os artigos que constam do Decreto-Lei nº 347/76.

A sua história foi e continua a ser atribuladíssima. A este propósito a nota final da sua biografia da autoria de Eduardo Caetano, editada quatro dias após a sua morte, reza o seguinte: "Quando este livro acabou de ser escrito, em princípios de Setembro de 1977, o Prof. Mário Silva dedicava-se de alma e coração, com um dinamismo apaixonado e cheio de entusiasmo, não obstante a idade, à sua obra mais recente, ao Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Ao leme desta barca ainda frágil desejavam os seus amigos vê-lo mais alguns anos, para a conduzir a um porto onde ficasse em segurança, abrigada das traiçoeiras rochas invisíveis e dos perigosos golpes de ventos intempestivos. Mas a morte veio buscá-lo a 13 de Julho de 1977 quando o Museu tanto precisava de amparo. Oxalá que a barca não se afunde..." Esperemos que não! De referir que os nove números das publicações do Museu Nacional da Ciência e da Técnica (1971-1979), e todo o seu trabalho, constituirão um excelente contributo para a História da Ciência.

Não passou um ano desde o seu falecimento, para que, ao arrepio da Lei, criassem o Museu da Ciência da Universidade de Lisboa. Não que não se criassem Museus de Ciência, nada o impediria e seria sempre de louvar..., mas omitir..., desprezar..., esquecer... Lamentável!

Como conta o Padre Cruz Diniz [4]: "Quando no dia 5 de Junho de 1976 foi solenemente inaugurado o Museu Nacional da Ciência e da Técnica, com a presença de Suas Ex.as, o Ministro da Educação e Investigação Científica, Major Victor Alves e o Ministro da Comunicação Social Dr. António de Almeida Santos, o Professor Mário Silva recordou no discurso que proferiu que, quando no tempo de Passos Manuel foi criado o Conservatório de Artes e Ofícios de Lisboa:

- O Porto protestou por ter sido criado em Lisboa e exigiu que fosse criado no Porto. Por isso lembrou: Em França havia um, embora a nível nacional. Em Portugal passou a haver dois. Esta divisão fez com que fossem extintos os dois Conservatórios. O dinheiro não chegaria para um, muito menos para dois... Por isso, quando fui informado que o Conselho de Ministros de V.Ex.as tinha aprovado em Decreto-Lei o Museu Nacional da Ciência e da Técnica de Coimbra - não sei se repararam, mas a notícia dada no preâmbulo falava apenas no Museu da Ciência e da Técnica de Coimbra - pensei logo: vai passar-se o que se passou com o outro Conservatório das Artes e Ofícios. É de Coimbra, portanto o Porto vai pedir também um e assim sucessivamente. Lá vai um suceder a outro, as verbas vão-se distribuir, e claro, o que caberia essencialmente para fazer um Museu Nacional acaba por não chegar para dois. (Premunição!). Porém, não no preâmbulo, mas no Artigo 1º lá está realmente indicado: - «MUSEU NACIONAL DA CIÊNCIA E DA TÉCNICA».

Pensava (ingenuamente, como boa alma que era, apesar de uma vida saturada de perseguições de todos os tipos) que a designação «NACIONAL» asseguraria ao Museu a unicidade e garanteria o futuro. Infelizmente, e mais uma vez, para mal da cultura portuguesa, parece ter-se enganado... Agora não foi o Porto a reclamar, mas sim Lisboa... Pouco tempo após o pavoroso incêndio que devorou a Faculdade de Ciências de Lisboa, foi decidido e aprovado em assembleia de escola que enchia a aula magna da Reitoria da Universidade, a constituição de duas comissões, uma para reestruturar o Museu Nacional de História Natural e outra para cuidar da criação de um Museu de Ciência. Mas, incompreensivelmente, a assembleia, o ilustre catedrático de Física, Professor Doutor Bragança Gil, numa conferência integrada na Semana Comemorativa dos centenários de Pedro Nunes e Alexandre Herculano sob a epígrafe "para um Museu da Ciência na Universidade de Lisboa" e posteriormente a RTP, que apoiou a iniciativa, promovendo um colóquio onde participou, além do Prof. Bragança Gil, o assistente da mesma especialidade (na altura) Carlos Cardoso e a conservadora dos museus municipais de Lisboa Irisalva Moita, esqueceram (talvez um esquecimento muito bem lembrado...) que esse Museu já existia (!)".

Tanto assim é que não se compreende que os objectivos do Museu Nacional, que constam do Artigo 2º do Decreto-Lei nº 347/76, e os objectivos do então projectado, e hoje uma realidade, Museu da Ciência de Lisboa, fossem precisamente os mesmos (?). Reconheça-se que houve uma sobreposição de instituições cujas vantagens nunca poderiam nem poderão justificar os encargos. Quem está a pagar a factura? E porquê? De facto, no parágrafo 2º do referido Artigo, pode ler-se: «O Museu (Nacional) terá sede em Coimbra, podendo ser criadas, por despacho conjunto dos Ministros das Finanças e da Tutela, secções regionais em qualquer ponto do país...». Previa, portanto, que o Museu se pudesse estender a todo o território nacional, mediante a criação de secções regionais que note-se, já existiam, como era o caso do Museu dos Transportes Terrestres no Carquejo ou a Casa-Museu Egas Moniz em Avanca.

Assim, o Padre Cruz Diniz concluía: "... Embora o Museu fosse na altura uma realidade nacional e, diga-se, um excelente Museu, não tinha a projecção que o Professor Mário Silva tanto desejava, apesar de tão exaustivamente e desinteressadamente ter trabalhado. Contudo uma conclusão ressalta de tudo o que foi dito. Existiram e existem forças ocultas interessadas em tolher-lhe os passos e neutralizar-lhe a acção... Em parte os portugueses são fanáticos. Odeiam a verdade. Ora, para os fanáticos o Prof. Mário Silva era um homem que irrita, porque em Portugal a verdade é irritante. Era tão grande a sua figura que ainda, depois de morto, continua a fazer sombra...".

Qual será o futuro do Museu Nacional da Ciência e da Técnica? Se tivesse sido criado em Lisboa, pois foi colocada a questão, teria chegado ao seu estado actual? Iremos assistir a mais uma machadada no nosso património cultural? Se assim for, para onde irá o espólio do Museu Nacional da Ciência e da Técnica? Qual será o papel da Universidade de Coimbra em todo este embróglio? Qual a razão para que se transferisse parte do espólio do Museu para o antigo Colégio das Artes? Não seria melhor, apesar de não ser essa a vontade do Professor Mário Silva, que a Universidade criasse um grande Museu de Ciência sobre os escombros do actual Museu Nacional? Se assim for, que relevo terá nesse futuro Museu o nome do Professor Mário Silva? É justo que o Professor Mário Silva não figure, condignamente, na nossa História?...Esperemos que não seja necessário esperar mais meio século para que Coimbra tenha, por direito próprio, um verdadeiro Museu de Ciência.

 
Referências:

[1] Mário A. da Silva, Elogio da Ciência, Coimbra Editora, 1963.

[2] Eduardo Caetano, Mário Silva: Professor e Democrata, Coimbra Editora, 1977.

[3] A.P.L. Policarpo, E.P. Lima e M.A.F. Alves, Detectores de Radiação em Portugal no Século XX, in História e Desenvolvimento da Ciência em Portugal no Século XX, Pub. II Cent. da Academia das Ciências de Lisboa, 1992.

[4] Publicações do Museu Nacional da Ciência e da Técnica, 1971-1979.

[5] Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, vol I-X (1930-1942).

[6] Bulletin of the American Physical Society, Outubro de 1955. "No anuário de 1957 da Société Française de Physique pode ler-se: (da Silva) Mário A., Professeur de Physique de l´Université de Coimbra (Portugal) - inscrição justa visto que, de facto, o merecia ser".

 
Resumo Biográfico de Mário Augusto da Silva:

1901 - Nasce em Coimbra, na freguesia da Almedina, a 7 de Janeiro de 1901.

1909 - 1910 - Finaliza a Instrução Primária tendo sido aprovado com distinção.

1917 - Finaliza o Liceu, tendo sido aprovado com distinção com 19 valores.

1920 - Publica no jornal A Cidade o artigo filosófico-científico Sobre o Problema da Génese da Vida. Desde muito cedo demonstrou a sua veia de escritor publicando artigos, contos, versos, ensaios em jornais e revistas, como O Dever, de Montemor-o-Velho, Notícias de Coimbra, Gazeta de Coimbra, A Cidade, de Coimbra. Posteriormente na Vida Mundial, Seara Nova, O Século, etc.

1921 - É nomeado 2º Assistente supra numerário do 1º Grupo da 2ª Secção da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (D.G. II série nº 20 de 25/1/1921).

1922 - É nomeado 2º Assistente da Faculdade do 1º Grupo da 2ª Secção da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (D.G. II série nº 39 de 17/2/1922).

Licencia-se em Física pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra com a informação final de 19 valores.

1924 - É nomeado para 1º Assistente da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.

1925 - Inicia o seu doutoramento no Instituto do Rádio de Paris, como bolseiro da Faculdade de Ciências de Coimbra, onde tem a honra de proceder a demonstrações experimentais de aulas e conferências realizadas por Madame Curie no Instituto. Foi colega e amigo de grandes cientistas, que na mesma altura preparavam também as suas teses de doutoramento, como Frédéric Joliot, Iréne Curie, S. Rosenblum, A. Proca, Frilley, Consigny, Jedrzejowski, etc. Conviveu com outras grandes figuras da Ciência desse tempo, como Paul Langevin, Jean Perrin, Debierne e Holweck: "... Conheci Niels Bohr, em Paris, no Instituto do Rádio, onde lhe fui apresentado por Madame Curie, por ocasião das cerimónias académicas, comemorativas do primeiro centenário da morte do grande físico francês Fresnel, em 1927. Todos os grandes nomes da Física moderna honraram, com a sua presença, estas cerimónias, como Lorentz, J.J. Thomson e o próprio Einstein...".

1926 - Jean Perrin apresenta à Academia das Ciências de Paris o seu artigo Mobilité des Ions Négatifs et Courants d´Ionisation dans l´Argon Pur, Comptes Rendues de l´Académie des Sciences de Paris, t. 183, p. 287, Julho de 1926. Trabalho realizado em colaboração com Marcel Laporte, Assistente do Instituto do Rádio de Paris. Foi publicado na Revista O Instituto, revista científica e literária, vol. 73º, 4ª série.

É eleito membro da Societé Française de Physique a15 de Janeiro de 1926.

1927 - Jean Perrin apresenta à Academia das Ciências de Paris dois artigos da sua autoria: 1 - Sur une Nouvelle Détermination de la Période du Polonium , Comptes Rendues de l´Académie des Sciences de Paris, t. 184, p. 197, Janeiro de 1927. O valor actual para o período do Polónio é muito próximo do determinado então por Mário Silva. 2 - Sur la Déformation de la Courbe d´Ionisation dans l´Argon Pur par Addition d´Oxygène, Comptes Rendues de l´Académie des Sciences de Paris, t. 185, p. 65, Julho de 1927.

1928 - Jean Perrin apresenta à Academia das Ciências de Paris os seus artigos: 1 - Sur l´Affinité de l´Oxygène pour les Électrons, Comptes Rendues de l´Académie de Sciences de Paris, t. 186, p. 583, Fevereiro de 1928. 2 - Electrons et Ions Positifs dans l´Argon Pur, Comptes Rendues de l´Académie des Sciences de Paris, t. 187, p. 32, Julho de 1928.

Obtém o Doctorat d´Etat, ès-sciences, pela Universidade de Paris em 1928 com a menção: trés honorable. Defende a tese intitulada Recherches Expérimentales sur l´Électroaffinité des Gaz, da qual foram Júri três grandes cientistas franceses: Madame Curie (Presidente), Jean Perrin e Debierne.

1929 - É nomeado Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.

A pedido de Madame Curie a sua tese de doutoramento é publicada nos Annales de Physique, X Série, tome XII, Setembro de 1929.

Inicia importantes trabalhos com vista ao estudo dos núcleos atómicos que infelizmente tiveram que ser interrompidos por exigência da Universidade de Coimbra... Era então bolseiro da Universidade de Paris, tendo recebido a pedido de Madame Curie a bolsa Arconatti-Visconti, no valor de 15.000 Fr, para trabalhos de investigação científica em França.

1930 - Obtém uma bolsa da Junta de Educação Nacional para trabalhos de investigação científica no país. Apresenta o trabalho pioneiro sobre radioactividade em Portugal La Radioactivité des Gaz Spontanés de la Source de Luso no congresso de Hidrologia, Climatologia e Ciências Médicas realizado em 1930 e publicado na Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, vol I nº 2.

1931 - Juntamente com o Professor de Medicina Álvaro de Matos cria o Instituto do Rádio de Coimbra. Apesar de pronto a funcionar, aquele que deveria ter sido o nosso primeiro Instituto de Física Nuclear e o nosso primeiro Instituto de Oncologia nunca foi oficializado, apesar de Madame Curie ter aceite vir à sua inauguração.

Publica na Revista da Faculdade de Ciências Sur une Méthode de Détermination de la Vie Moyene d´un Ion Négatif.

Faz provas públicas para Professor Catedrático de Física da Universidade de Coimbra onde defende a tese: Sobre dois Métodos de Determinação da Probabilidade - h - de Thomson.

Como Professor Catedrático desde 17/7/1931 é nomeado para Director do Laboratório de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra em 20/11/1931.

1932 - Publica o livro Lições de Física para Uso dos Alunos do Curso de Preparatórios Médicos da F. de Ciências e o artigo Newton, Esperimentador.

1933 - Cria juntamente com Teixeira Lopes seu assistente e Armando Lacerda, director do Laboratório de Fonética Experimental da Faculdade de Letras, a primeira emissora de rádio do país: a projectada «Emissora Universitária de Coimbra». O emissor vem descrito num artigo publicado, em 1933, no vol III da Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Infelizmente o projecto teve que ser abandonado...

Cria e dinamiza o Rádio Clube do Centro de Portugal.

Publica os artigos científicos: Sur la Charge Électrique du Recul Radioactif, Les valeurs Absolus de la Mobilité des Ions Gazeux dans les Gaz Purs e L´Ionisation dans l´Hydrogène trés pur.

1934 - Inicia a recuperação do espólio que pertenceu ao primeiro Gabinete de Física Experimental, criado pela grande reforma pombalina de 1772. (?)

1937 - Publica o livro didáctico Lições de Física, Coimbra, 1937.

1938 - Apresenta à Academia das Ciências de Lisboa a comunicação Um Novo Museu em Coimbra: O Museu Pombalino de Física da Faculdade de Ciências de Coimbra , posteriormente publicada na Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, vol VIII 1939.

Em 1939 o Museu Pombalino de Física era uma realidade. Cientistas de renome que o visitaram ficaram surpreendidos pela diversidade, pela originalidade e pela riqueza artística desta preciosa colecção de instrumentos científicos.

1940 - Publica Lições de Física - 3ª parte do I livro - Energia Electromagnética, fasc. 1º - Campo Electroestático e Magnético no Vazio.

Apresenta uma comunicação ao Congresso da História da Actividade Científica Portuguesa, realizado em Coimbra, em Novembro de 1940, com o título: A Actividade Científica dos Primeiros Directores do Gabinete de Física que a Reforma Pombalina criou em Coimbra em 1772, publicada na Revista da Faculdade de Ciências, vol X 1940.

1941 - É eleito membro da American Physical Society em 21 de Janeiro de 1941.

É nomeado Secretário da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (D.G. nº 243 II série de 17/10/1941).

Publica o artigo biográfico A Vida e a Obra de Edouard Branly.

1942 - Profere a Oração de Sapiência na abertura do ano lectivo de 1942-43, a que deu o título de Elogio da Ciência.

Publica Lições de Física - 3ª parte do I livro - Energia Electromagnética, fasc. 3º - Campo Electromagnético Estacionário.

Publica o artigo Algumas considerações sobre a forma complexa das leis de Kirchhoff aplicável aos circuitos em corrente alternada, Coimbra, 1942.

Inicia a obra de Física Teórica Le Champ Electromagnétique Variable, em colaboração com o físico austríaco Guido Beck, da qual apenas saíram 48 páginas... Durante a 2ª Grande Guerra passaram por Coimbra, fugidos ao regime nazi, físicos de renome mundial como os Físicos Teóricos G. Beck e A. Proca e o Físico Nuclear S. deBenedetti...

Pelo trabalho de recuperação que o levou à criação do Museu Pombalino foi-lhe atribuído um louvor público, que vem publicado no Diário do Governo, nº 63 da 2ª Série, de 18 de Março de 1942.

1945 - Publica o livro Mecânica Física volume I - Newton-Einstein e o primeiro volume da sua principal obra sobre Física Teórica: Teoria do Campo Electromagnético - volume I - Maxwell-Lorentz-Einstein.

1946 - É Vice-Presidente da Comissão Distrital por Coimbra do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Era Presidente desta comissão o Professor Anselmo Ferraz de Carvalho.

É preso pela primeira vez no dia 21 de Agosto de 1946 (Proc. PIDE nº75-A/946). Permanece preso durante cerca de dois meses sem culpa formada... a sua libertação (19/10/1946) foi obra de um mero acaso... Posteriormente voltaria a ser preso, em regime de prisão domiciliária.

É inscrito no "Who's Important in Science" para 1947.

1947 - Publica mais dois volumes da obra Teoria do Campo Electromagnético - volume II - Coulomb-Derster-Ampère e volume III - Faraday-Steinmetz-Hertz. O fim da sua carreira académica impediu a finalização desta obra...

É aposentado compulsivamente da Universidade de Coimbra através do Despacho do Conselho de Ministros publicado no Diário de Governo, primeira série, nº 138 de 18 de Junho de 1947.

Traduz o cap. XIV de Panorama da Ciência Comtemporânea - Estrutura da Matéria de J.H. Thomson e J. Huxley.

1948 - Traduz o livro Introdução à Matemática de A. N. Whitehead, da Colecção Studium.

Aposentado obrigatoriamente por despacho da Caixa Geral de Aposentações em 24/4/1948.

1950 - É nomeado "Consultor Científico" da Philips Portuguesa.

1958 - Publica Importância das Novas Técnicas Radiológicas para Diminuir o Perigo das Radiações e traduz o livro da Colecção Studium O Significado da Relatividade de A. Einstein, com uma «Explicação Prévia» da sua autoria.

1961 - É candidato, pela oposição, a deputado à Assembleia Nacional.

1964 - Traduz o livro Pensamento Científico Moderno de Jean Ullmo, com «Duas Palavras de Apresentação» da sua autoria.

1966 - Reforma da Philips Portuguesa.

1967 - Publica os livros didácticos Curso Complementar de Física, vol I e II, e Problemas Resolvidos de Física Geral, vol I - Cálculo Vectorial e Cinemática.

É convidado oficialmente pelo governo francês para assistir ao primeiro centenário do nascimento de Madame Curie.

1971 - É nomeado Presidente da Comissão de Planeamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica, por despacho de 3 de Fevereiro de 1971 do Ministério da Educação Nacional, pelo Prof. Dr. Veiga Simão.

É publicado pela Coimbra Editora o livro Elogio da Ciência, que tinha terminado em 1963.

Foi responsável pelas publicações do Museu Nacional da Ciência e da Técnica (9 vols. 1971-1979).

1976 - É oficializado o Museu Nacional da Ciência e da Técnica através do Decreto-Lei nº 347 de 12 de Maio de 1976, sendo nomeado para seu Director.

É oficialmente reintegrado como Professor Catedrático da Universidade de Coimbra...

1977 - Morre em Coimbra a 13 de Julho de 1977.

 
Principais Associações Científicas de que foi membro:

- Société Française de Physique

- American Physical Society

- Academia das Ciências de Lisboa

- Société de Chimie-Physique

 

 

FOTOGRAFIAS
  Retiradas do livro: Recordando Aspectos da Vida e Obra de Mário Silva - João Paulo Nobre
 

 
Visita do Presidente Doumergue ao Instituto do Rádio de Paris. À direita, o Presidente Doumergue; por detrás e um pouco acima, o casal Joliot-Curie e por detrás, à direita Marcel Laporte. Madame Curie está ao centro, entre Jean Perrin, à direita e o Dr. Regault, à esquerda. Mário Silva está por detrás do Dr. Regault, à esquerda de Marcel Laporte.
     
 

 
Mário Silva (à direita) com os seus colegas e amigos no Instituto do Rádio de Paris (1925-1930): Rosenblum (ao centro) e Proca (à esquerda).
     
 

 
O Professor Mário Augusto da Silva em 1931, após as suas provas públicas para Professor Catedrático de Física da Universidade de Coimbra.
     
 

 
Campanha eleitoral do General Humberto Delgado para as presidenciais de 1958. Comício realizado no antigo Teatro Avenida em Coimbra. As duas fotografias mostram o momento de uma ovação a Mário Silva, que se encontra no camarote central.
 

 

 
 

 
O aspecto da sala, onde funcionou o Gabinete de Física Pombalino, e com o qual se deparou Mário Silva quando assumiu a direcção do Laboratório de Física. Em baixo, a mesma sala, após a sua reconstituição. Mário Silva designou-a por Sala de dalla Bella. Foi com este aspecto que o Professor Mário Silva deixou o Museu Pombalino quando foi expulso da Universidade em 1947.
 

 

 
 

 
Visita do Professor Veiga Simão ao Museu Nacional da Ciência e da Técnica em 1973. O Professor Mário Silva explica o funcionamento de um invento de Leonardo da Vinci. A maquete do "automóvel" que se vê na fotografia faz parte de uma importante colecção oferecida pela IBM ao Museu.
 

 

 
 

 
Carta de Madame Curie à editora Masson, pedindo a rápida impressão da tese de Mário Silva.
 

 

 
 

  

 
Carta que Madame Curie fez questão de enviar à Universidade de Coimbra, quando Mário Silva foi obrigado a regressar em 1930. 
     
 

 
Aspecto da sala de dalla Bella do Museu Pombalino de Física da Universidade de Coimbra em 1977. Sem comentários!
 

 

 
 

 
Carta de Mário Soares, do seu exílio em Paris, felicitando Mário Silva pela sua reintegração na Universidade de Coimbra. Na verdade não o tinha sido, pois a reintegração só surgiu em 1976! Tinha sido, somente, nomeado oficialmente para dirigir a comissão de planeamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Já naquele tempo se manipulava a informação!...