Discurso na inauguração do Monumento em Honra de 
Mário Silva

 

     Proferido por José Dias Urbano  *

* Presidente do Conselho Directivo da FCTUC

É com enorme satisfação que participo, em representação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, nesta homenagem que Coimbra presta ao Professor Mário Augusto da Silva.

Não vou lembrar aqui a sua obra notável como pedagogo, cientista, académico e cidadão, a qual e, sem dúvida, merecedora desta e doutras ainda devidas homenagens. E não o faço porque não quero cair na tentação de transferir para mim, para nós, ainda que involuntariamente, um pouco que seja das muitas virtudes que só ele possuía. Aliás, nem essa lembrança seria necessária porque o Prof. Mário Silva faz já parte do lendário da nossa terra, é uma peça ímpar do nosso património cultural.

Quero, em vez disso, aproveitar esta oportunidade para vos transmitir algo do que com ele aprendi sobre a condição de ser-se cidadão cientista nos tempos de hoje, nas amenas conversas que tive com ele, já lá vão bastantes anos, na sala da biblioteca do Laboratório de Física no Edifício Pombalino. E essa mensagem encontra-se mais naquilo que Mário Silva pretendeu fazer sem o conseguir, do que nas suas notáveis realizações.

Aluno distinto da insigne Marie Curie, propôs-se criar em Coimbra uma Escola de Física capaz de satisfazer as exigências do desenvolvimento científico e tecnológico que se adivinhava, e não lhe deram tempo para o fazer.

Pretendeu usar os seus enormes conhecimentos dos fenómenos radioactivos para acudir misericordiosamente às vítimas da terrível doença do nosso século, e não lho consentiram.

Homem exemplar, quis partilhar com os seus concidadãos o juízo esclarecido que possuía sobre as coisas da república, e prenderam-no como dum malfeitor se tratasse.

Professor emérito, pedagogo brilhante, amado e respeitado pelos seus alunos, tentou transmitir-lhes algum do seu muito saber, e foi afastado compulsivamente da docência universitária.

Sempre que avançava um passo, saía-lhe ao caminho a besta medonha do obscurantismo. Mas ele, derrotado, foi afinal o vencedor. E a prova disso é a nossa presença aqui. Presença esta que eu gostaria que representasse uma determinação muito forte de completar a obra que o prof. Mário Silva encetou. 

Não é possível, nos tempos de hoje, alcançar níveis de bem-estar compatíveis com os legítimos anseios do nosso povo, sem uma forte estrutura científica que afaste, de uma vez por todas, a ameaça do obscurantismo, alterando radicalmente os nosso hábitos culturais. 

Foi esta a mensagem que eu julgo ter recebido do Prof. Mário Silva. Porque foram os hábitos culturais, mais do que a maldade de algumas pessoas, que quiseram calar a sua voz. Mas essa voz chegou até nós, a indicar o caminho. Saibamos nós segui-lo. Essa seria a melhor homenagem que poderíamos prestar ao grande mestre.

Disse.