O Engenho e a Arte


Maria da Conceição Ruivo

A organização de um catálogo pressupõe naturalmente uma leitura, um conceito que presida à ordenação das peças. Um espólio tão valioso como o do Museu de Física da Universidade de Coimbra coloca logo à partida a necessidade de uma opção. A extensão da colecção, a variedade temática a que respeitam os aparelhos, o período que percorre fazem com que diferentes tipos de organização sejam possíveis.

A selecção do material do Museu para a exposição O Engenho e a Arte corresponde apenas a uma fracção do seu espólio e coincide, na sua maior parte, com a selecção feita para a exposição Les Méchanismes du Génie, apresentada em 1991 em Charleroi, no contexto da Europália.

De um ponto de vista actual, podemos considerar que as peças apresentadas se inserem em três grandes áreas temáticas: a Mecânica, a Física dos Meios Contínuos e o Electromagnetismo. As unificações que se operaram na Física durante os últimos dois séculos permitem-nos hoje superar as antigas compartimentações, preservando, embora, a especificidade de certos domínios. Procurámos, no entanto, um compromisso entre uma reconstituição do espírito da época e uma sequência que permita ao visitante actual uma compreensão da Física subjacente aos aparelhos e da história que eles nos contam.

Assim, mantendo a divisão temática atrás referida, agrupámos, dentro de cada área, os instrumentos em módulos análogos aos apresentados por dalla Bella no Index Instrumentorum de 1788. A sequência destes módulos não é, todavia, sempre idêntica à do referido Index; de facto, ela está mais próxima de ordenações que o professor italiano utilizou para arrumar os instrumentos nos armários ou para sequenciar os assuntos nos Physices Elementa, o compêndio de Física Experimental de sua autoria. Incluímos nesses módulos alguns instrumentos que não faziam parte da colecção original do tempo de dalla Bella e que foram adquiridos no princípio do século XIX. Estão neste caso instrumentos que, embora por vezes apresentem, relativamente aos do século XVIII, um maior aperfeiçoamento técnico e uma menor qualidade artística, pertencem efectivamente à Física do século XVIII e, por conseguinte, se integram bem no conjunto. As peças típicas da física do século XIX são, essencialmente, os aparelhos electromagnetismo, que surgem no fim do catálogo.

As fichas dos instrumentos foram, na maior parte, adaptadas do catálogo Les Mechanisme du Genie. As restantes foram retiradas do livro de Rómulo de Carvalho, História do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra, ou elaboradas pela Comissão Organizadora do Catálogo. Esta última obra foi, aliás, um auxiliar precioso em todo o trabalho de organização do catálogo.

Agradecemos penhoradamente à Dra. Simonetta Luz Afonso, Directora do Instituto Português de Museus, e ao Doutor Rómulo de Carvalho a sua permissão para utilizar estas obras, sem as quais o presente trabalho não teria sido possível.

Constam deste catálogo dois textos que, para além do seu inegável interesse, têm um valor muito especial para o Museu de Física. São eles Um Museu de Física Pombalino na Universidade de Coimbra de Mário Silva e A Física na Reforma Pombalina de Rómulo de Carvalho. A sua inclusão representa uma homenagem aos seus autores pelo muito que o Museu lhes deve.


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