Na sua obra intitulada Introductio ad Philosophiam Naturalem, Peter van Musschenbroek afirma que quando uma lente única (lupa) não dá suficiente ampliação à imagem de um objecto, junta-se-lhe uma segunda, ou até mesmo uma terceira, conforme fez o holandês Drebbel, em 1621, o qual é apontado por Musschenbroek como o inventor do microscópio composto.
O emprego de três lentes, como é caso no presente microscópio, tem, diz Musschenbroek, o inconveniente de tornar a imagem pouco luminosa, exigindo uma iluminação intensa do objecto para que o resultado seja melhor, o que já não é necessário no microscópio de duas lentes. Consegue-se a iluminação precisa utilizando um espelho côncavo, de preferência metálico, que dirija para o objecto a luz solar ou qualquer outra bastante intensa.
No exemplar do Museu distinguem-se: a parte superior, afunilada, continuada por um tubo cilíndrico que enfia num outro que se vê munido de três pés curvos de bronze; o tubo estreito, situado entre esses pés, e em cuja extremidade inferior se instala a objectiva; a platina do microscópio, também assente em três pés curvos de bronze; uma base com uma gaveta. A parte superior, de madeira, é composta por peças separadas que se desenroscam, e onde se introduzem, convenientemente, a ocular e a outra lente a que nos referimos.
A distância entre a ocular e a objectiva é fixa; a distância entre a objectiva e a platina do microscópio regula-se elevando ou baixando o canhão que enfia no tubo cilíndrico assente nos três pés, onde fica seguro por atrito. À medida que se eleva o canhão descobrem-se cinco traços que estão marcados nele, numerados de l a 5, respeitantes, cada um, à posição em que o canhão deve ficar quando se usa cada uma das cinco objectivas que fazem parte do microscópio.
O espelho reflector, que já não existe, devia ter uma haste que enfiasse no centro da base de madeira. Pelo menos há aí uma cavidade que faz admitir que assim fosse.
Informa o Index que pertenciam a este microscópio quatro lentes objectivas de várias potências, seis lâminas de marfim (e outras peças cuja existência refere por etc sem indicar quais são), as quais naturalmente se guardariam na gaveta e onde ainda se encontram.
Embora o Index refira quatro objectivas, a verdade é que seriam cinco, não só por serem cinco as
que existem, numeradas de l a 5, como por serem cinco os traços marcados no microscópio,
como dissemos.
As seis lâminas de marfim a que se refere o Index são destinadas à colocação das preparações microscópicas. Quatro dessas lâminas comportam cinco preparações e as duas restantes quatro.
As preparações estão todas colocadas em aberturas circulares feitas nas lâminas e amparadas por discos de mica. Falta apenas uma preparação em uma das lâminas maiores.
Para se proceder à observação microscópica não se colocava a lâmina sobre a platina como hoje se faz. Ao meio da platina e por cima do seu orifício central, estava fixa uma pequena ponte metálica, em forma de U invertido. Por baixo dessa ponte havia uma pequena mola em hélice que assentava na platina. A lâmina com as preparações era entalada entre a parte superior dessa mola e o tecto da ponte.