Máquina de Poleni



37,5 x 46,5 x 29
Madeira e ferro

INDEX 1788 : B.IV.e.82

Nova Machina constans ex Mensula lignea, in cujus medio fixa est capsula ferrea foramine pertusa, quod clauditur a lamina ferrea mobili subtus posita. Haec lamina duos habet funiculus extremis capitibus adnexos, qui dextrorsum, et sinistrorsum super trochleas excurrunt. Funiculo, qui ad sinistrum latus movetur, juguntur funiculi certae longitudinis, alius post alium, quorum unicuique appensa est pila ferrea diametro linear. 17. quae pila filo suspenditur, atque dum sibi libere committitur lamellam mobilem decidendo secum ducit, et ita clauditur foramen capsulae ferreae. Dum haec pila suspensa remanet, ducta ad dextrum latus lamina, foramen capsulae aperitur, quod, ut capsula Hydrargyro impleatur, claudere oportet. Ad hoc comparatae sunt pilae ferreae minores (6 sunt numero) pellibus imbutae, quarum una adnectitur foramini, et arcte filo tenetur. Filum hoc, et filum alterius pilae maioris ita ducuntur, ut duas laminas ferreas, quae capsulae imminent, simul pertranseant; ac postea cochleis hunc in finem paratis firmentur. Sub capsulae foramine patella ferrea residet, quae poculum debet sustinere. Capsula hydrargyro interea repleta, eodem puncto temporis scinduntur forcipe fila; decidunt ambae pilae, ac perforamen exit hydrargyrum, quod apoculo colligitur, donec pila mayor spatium percurrat a suo funiculo determinatum. Hoc jam percurso spatio vi sua pila decidua laminam mobilem secum vehit, ac foramen clauditur. Tantundem ergo hydrargyri exire potuit, quantum poterat eo temporis intervallo, quo altera pila suum spatium confecit. Hujus itaque pondus hydrargyri instar temporis sumi potest: atque ita hujusmodi Machina [quae in experimento insistit basi ligneae quatuor pedibus intructae] optime ostenditur spatia a gravibus corporibus motu aequabiliter accelerato percursa esse in ratione duplicata temporum. Eadem inventa fuit a Praeceptore meo Viro laudatissimo Marchione Joanne Poleno.

Nova máquina composta por uma pequena mesa de madeira, no meio da qual está fixa uma pequena caixa de ferro perfurada por um orifício. Este é fechado por uma lingueta móvel de ferro, subjacente. Esta lingueta tem, ligados nas extremidades, dois cordéis l os quais se estendem à direita e à esquerda, passando por cima de roldanas. Ao cordel que se move para o lado esquerdo estão atados, um após o outro, cordéis de determinado comprimento. Uma esfera om o diâmetro de 17 linhas está ligada a cada um dos cordéis. Esta esfera fica ligada por um fio e, quando quando deixada à vontade, arrasta consigo na queda a lingueta móvel, fechando-se, deste modo, a abertura da caixa de ferro. Enquanto esta bola está suspensa, se a lingueta for arrastada para o lado direito, abre-se o orifício da caixa que, para que a caixa se encha de hidrargírio, convém fechar. Com este objectivo estão disponíveis seis pequenas esferas de ferro cobertas de pele. Uma destas esferas actua sobre sobre o oríficio mas, de início, está imobilizada por um fio. Este fio e o outro fio que segura a esfera maior são estendidos de modo que atravessem ao mesmo tempo duas lâminas de ferro fixas sobre a caixa, sendo seguidamente seguros com parafusos preparados para este fim. Sob o orifício encontra-se um pequeno prato de ferro onde deve ser colocado um copo. Estando, entretanto, a caixa cheia de hidrargírio, nesse mesmo momento cortam-se os fios com uma tesoura; as duas esferras caem e, pelo orifício, sai o hidrargírio, que é recolhido no copo até que a esfera maior tenha percorrido o espaço determinado pelo seu cordel. Depois de ter percorrido este espaço, a bola age com a sua própria força e arrasta consigo a lingueta móvel fechando-se o orifício. Saiu então tanta quantidade de hidrargírio quanto era possível durante aquele intervalo de tempo em que a outra esfera percorreu o seu espaço. Assim, o peso deste hidrargírio pode ser tomado como medida de tempo; e assim, com uma máquina deste tipo (que na experiência se apoia numa base de madeira munida de quatro pés) mostra-se da melhor maneira que os espaços percorridos por corpos graves com um movimento uniformemente acelerado estão na razão duplicada dos tempos. Este instrumento foi inventado pelo meu mestre, homem muito considerado, o Marquês João Poleno.

A queda dos corpos foi, sem dúvida, um dos primeiros fenómenos físicos que o homem terá procurado compreender. Esta busca deu origem ao desenvolvimento de diferentes instrumentos, todos eles concebidos a fim de permitir estabelecer uma relação entre os espaços percorridos pelo corpo em queda livre e os correspondentes tempos de movimento. Galileu constitui um exemplo ilustre desta constante pesquisa visando a compreensão dos fenómenos da natureza.

Segundo dalla Bella, a presente máquina foi inventada pelo seu mestre Giovanni Poleni, que leccionou sucessivamente Astronomia, Física e Matemática na Universidade de Veneza.

Desta máquina, faz parte uma pequena mesa no meio do tampo da qual está colocada uma tina de ferro com um pequeno orifício no fundo. Nesta tina, deita-se mercúrio que, uma vez aberto o orifício, escorre por este e cai dentro de um copo de vidro colocado num suporte de ferro preso à face inferior da mesa. Para abrir ou fechar o orifício, faz-se deslocar uma lingueta presa do lado de fora do fundo da tina. Esta lingueta é accionada por dois fios que devem passar por duas roldanas também localizadas na face inferior do tampo da mesa.

O fundamento do processo consiste em deixar cair uma esfera livremente durante certo tempo, de maneira tal que a esfera, no momento de começar a cair, faz destapar o orifício através do qual escorre mercúrio para dentro do copo; o orifício fecha no momento em que termina a queda. Rodeava-se assim a dificuldade de efectuar directamente a medida do tempo da queda da esfera tomando-se o peso do mercúrio despejado durante esse tempo como valor proporcional àquele. Se a esfera percorresse, em queda livre, um espaço quádruplo do primeiro, gastaria no trajecto o dobro do tempo cujo valor se conhecia por então se ter despejado o dobro da quantidade de mercúrio.

A fim de poder observar a queda da esfera a partir de diferentes alturas, a mesa anteriormente descrita está montada sobre um quadripé com 1,14 m de altura.

Este aparelho fazia parte da colecção do Colégio dos Nobres, onde tinha o número de catálogo 76.


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