Em Janeiro de 1781, o Journal de Physique publica uma carta dirigida a
M. l'Abbé Rozier, por J. Hyacinth de Magellan, onde este apresenta
um novo modelo de balança de ensaio que havia concebido, e com o qual
podia realizar pesagens de grande precisão.
Neste artigo, para além duma descrição pormenorizada da
sua balança, Magalhães expõe o método de pesagens a
utilizar para a obtenção de resultados precisos.
O Gabinete de Física possui dois exemplares dessa balança. A mais
antiga, datada de 1797, foi construída em Londres por William e Samuel
Jones, como nos certifica a inscrição existente no alto da coluna
de suspensão do travessão. A mais moderna é uma
réplica perfeita da primeira, tendo sido feita em Coimbra por Joze
Joaquim de Miranda.
A balança propriamente dita está encerrada no interior duma caixa
de vidro que possui duas portinholas laterais, que permitem o acesso aos
pratos. A base desta caixa é de madeira e está apoiada em
três pontos sobre uma segunda caixa. Um destes apoios é articulado
e situa-se na zona média de um dos lados da base. Do outro lado
encontram-se dois parafusos por meio dos quais se pode nivelar a
balança. No interior da caixa de vidro, ligeiramente acima da portinhola
que se encontra do lado dos parafusos de nivelamento, encontra-se um
nível de bolha.
O fiel é constituído por uma escala lateral em frente da qual se
move um ponteiro existente num dos extremos do travessão da
balança. A observação da posição deste
ponteiro em relação à escala devia ser feita com uma lupa.
No artigo publicado no Journal de Physique é apresentada uma
gravura da balança, podendo ver-se uma lupa instalada no suporte onde se
encontra a referência para o ponteiro. Esta referência é
constituída por um segundo ponteiro fixo. Pode assim assumir-se que a
balança construída por Jones seria já uma
evolução em relação ao modelo original.
No interior da caixa de vidro encontram-se suportes para cada um dos pratos.
Estes suportes podem mover-se verticalmente, para servirem de base de apoio
para os pratos enquanto se colocam ou removem os corpos destinados
às pesagens, evitando-se assim as oscilações da
balança durante esta operação. O comando destes apoios
é feito a partir do exterior da caixa, usando uma chave que faz
rodar um eixo de transmissão que actua sobre alavancas onde os apoios se
encontram fixos. Todo este conjunto é feito de latão, havendo
dois discos de vidro na parte superior dos suportes dos pratos.
A caixa inferior da balança possui três gavetas, sendo as duas
inferiores de menores dimensões. Nesta gaveta guardam-se vários
acessórios. A balança possui três travessões
diferentes, encontrando-se dois deles guardados na gaveta maior.
Numa das gavetas guardam-se os pesos da balança. Os pesos de maiores
dimensões apresentam a forma de tronco de pirâmide de base
quadrangular. Os de menores dimensões, constituídos por finas
lâminas de cobre, ou pequenos discos de latão, encontram-se
guardados em várias caixas cilíndricas com tampa de rosca.
Actualmente existem oito destas caixas, todas elas com o seu lugar
próprio na gaveta e encontram-se três lugares desocupados, o que
permite pensar que se perderam alguns acessórios da balança.
Nesta gaveta existe ainda um conjunto completo de seis cadinhos, com forma de
tronco de cone, que encaixam sucessivamente uns nos outros.
Para além dos acessórios anteriormente referidos, a
balança apresenta três pares de pratos, com ganchos de
suspensão próprios para os diferentes travessões. Na
gaveta onde se guardam os pratos encontram-se ainda outros
acessórios, como um martelo, uma pinça, a chave de comando das
alavancas, etc. Trata-se do mais completo exemplar de balança de ensaio
actualmente existente no Gabinete de Física de Coimbra.
Esta balança, além da inscrição a dourado
correspondente à sua inclusão no Catálogo de 1824, tem
ainda, na base de madeira, a inscrição C.IV.584,
numeração que antecede a da balança santoriana
(instrumento 21), o que nos leva a crer que tenha sido adquirida ainda por
dalla Bella. No entanto, contrariamente à anterior, não consta do
Index de 1790 (leia-se, a este propósito, o último
parágrafo da ficha do instrumento 5).