M agnete chinês contido numa coroa


96,5 x 44,3 x 78
Magnetite, ferro, madeira e marfim

INDEX 1788 : M.IV. d43

Magnes Sinicus figurae irregularis eleganter armatus. Lapis nudus est 512 unciarum pondo, ac pondus 2880. unciarum usque sustulit. Sustinetur Magnes a Basi lignea, cui insistunt columnae binae cum epystilo, et ope manubrii per trochleas occultas, ac funiculos columnis et epystilo interclusos, tenditur atque laxatur.

Magnete da China de forma irregular, elegantemente armado. A pedra nua tem um peso de 512 onças e levanta um peso até 2880 onças. O magnete é sustentado por uma base de madeira à qual se apoiam duas colunas com epistílio e, com o auxílio de um cabo, por meio de roldanas escon-didas e pequenos cordéis inseridos dentro das colunas e do epistílio, estende-se e encolhe-se.

Esta magnífica peça do Gabinete de Física é constituída por um bloco de magnetite de dimensões invulgares, cujo peso é de 12 kgf. Desconhece-se a sua origem exacta. Segundo a tradição, esta pedra teria sido encontrada na China, vindo para Portugal como oferta do imperador chinês ao
rei D. João V. A pedra encontra-se envolvida por uma coroa real de metal dourado e todo o conjunto se encontra suspenso, por meio de uma corda, de uma trave horizontal de madeira assente em duas colunas verticais. A trave e as colunas são ocas e contêm um sistema de roldanas, por onde passa a corda de suspensão, permitindo elevar ou baixar a coroa através de uma manivela localizada junto da base de uma das colunas. A fim de facilitar esta operação, encontra-se, no interior da base de cada uma das colunas, um mecanismo de rodas dentadas, ao qual se pode ter acesso retirando uma pequena tampa.

Para além da corda de suspensão, que segura a coroa real pela sua argola, existem outras duas cordas, mais finas, que se encontram ligadas, através de uma argola, a dois botões diametralmente opostos no anel da coroa. Estando a coroa suspensa pela corda central, ficará orientada normalmente. Se a suspensão se fizer pelas cordas laterais, a coroa fica em posição invertida, mostrando na parte superior um disco de aço, no qual sobressaem duas saliências, também de aço, que servem de peças polares do magnete. Nesta posição, o magnete podia ser utilizado em estudos experimentais, sendo possível magnetizar agulhas destinadas à navegação.

Com a coroa real orientada na sua posição normal, coloca-se na sua parte inferior uma peça metálica triangular, que é atraída pelos pólos do magnete, e da qual se podem suspender corpos.

Para medir a força de ruptura do magnete, suspendem-se sucessivamente corpos mais pesados, até se atingir o valor máximo do peso que o magnete consegue manter suspenso.

Quanto ao valor máximo deste peso, existe alguma divergência nos dois catálogos de instrumentos publicados por dalla Bella. Assim, o Index Instrumentorum de 1788 aponta para 83,520 kgf, no inventário de 1790 é indicado o valor de 94,859 kgf.

Há uma gravura do século XVIII, assinada por Inácio de Oliveira que representa a instalação do magnete na sua arrumação inicial, anterior ao próprio Gabinete e cuja legenda nos fornece preciosas informações. Nela pode observar-se que o conjunto exibia uma esfera armilar sobre a trave horizontal que sustenta a coroa. Desconhece-se o paradeiro desta esfera.

A mesa sobre a qual se encontra actualmente exposto todo o conjunto corresponde provavelmente à apresentada na gravura acima referida.

A observação dessa mesma gravura permite verificar que do conjunto fazia parte um quadripé onde ficava retida a armadura triangular quando o peso do corpo suspenso do magnete excedia a força de ruptura, evitando, assim o impacto directo deste contra a mesa. Este quadripé era colocado em cima de uma almofada, sob a qual existia uma mola de cobre destinada a amortecer a violência do impacto no momento da queda. A almofada e a mola ainda existem.

Segundo Rómulo de Carvalho, na História do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra, a legenda que acompanha a figura permite saber que este magnete foi armado em Lisboa pelo fabricante inglês William Dugood, membro da Royal Society, e que esteve estabelecido em Portugal durante algum tempo.

O magnete fez parte da colecção de instrumentos do Colégio dos Nobres, onde tinha o número de catálogo 40.

Carvalho, Rómulo de, História do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1978, pp. 176-182.


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